O Brasil não está imune a atentados terroristas diz Roger Noriega


A investida do governo do presidente Barack Obama contra o Irã colocou em destaque as tentativas realizadas pelo poderoso grupo político estadunidense conhecido como os “neoconservadores”, para envolver os países ibero-americanos, do México à Argentina, em suas manobras de inteligência visando à reativação da “guerra ao terror” na região. Uma evidência disto é a entrevista de um de seus ícones diplomáticos, Roger Noriega, à revista Veja, publicada na edição de 9 de novembro, na qual adverte o Brasil e a Argentina de que ambos os países estão diante do perigo “real e iminente” de sofrer atentados terroristas por organizações aliadas ao Irã que atuam na região.

Noriega, que atualmente é senior fellow no American Enterprise Institute (AEI), um dos principais centros de articulação dos “neoconservadores” e baluartes do “excepcionalismo americano”, é um veterano formulador de políticas para o Hemisfério Ocidental, tendo sido secretário de Estado Assistente para a região, no governo de George W. Bush, entre 2003 e 2005.

Para ele, os riscos maiores deverão se manifestar em torno da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Portanto, transmitiu seu recado ao Brasil:

"Dentro em breve, o pais será palco da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Obviamente, isso transforma o Brasil em alvo tentador. É um erro subestimar este fato. A presença de redes terroristas em território brasileiro obriga as autoridades responsáveis pela segurança a aumentar sua atenção. O Brasil, ou qualquer outra nação, não está imune a atentados. A comunidade internacional deu um voto de confiança ao Brasil e espera que o país não falhe em garantir a integridade fisica dos atletas… Rezo para que as autridades brasileiras deixem de cometer o erro de ignorar o terrorismo. O risco para o país é real e iminente."

Durante a presidência de George W. Bush, Noriega e seus camaradas “neocons” fizeram numerosas advertências sobre a presença de redes de apoio logístico ao terrorismo islâmico na região da Tríplice Fronteira. De acordo com ele, o Hisbolá opera na região desde a década de 1980, tendo multiplicado as suas atividades recentemente. Tais versões nunca foram confirmadas oficialmente pelo próprio governo estadunidense, sempre que este foi instado pelo Brasil a apresentar as evidênacias comprobatórias das denúncias.

Quanto à Argentina, o alvo da investida de Noriega foi o recentemente revivido programa nuclear do país:

«Mas, francamente, algumas operações do governo argentino com o Irã são muito suspeitas. A principal delas é o acordo de cooperação na área nuclear assinado entre os dois países. Espero que a descoberta pela DEA [Drug Enforcement Agency], de que poderia haver também outro ataque em Buenos Aires, coloque a Casa Rosada em alerta.»

Além do ataque leviano à política nuclear argentina, ele também se lançou contra o Equador e a Bolívia:

«Tanto a Bolívia quanto o Equador estão permitindo que o Irã realize movimentações supostamente comerciais em seus territórios. A mais preocupante delas é a exploração de minérios estratégicos como o urânio.»

O fato de não haver nos dois países qualquer projeto de exploração de urânio envolvendo o Irã, apenas uma declaração de intenções junto à Bolívia, não parece ter sido obstáculo para as diatribes de Noriega.

A entrevista de Noriega é um indicador da recente reativação das redes “neoconservadoras”, que têm ganho força política na administração de Obama, embora ainda estejam longe da influência hegemônica que dispunham na de seu antecessor.

Outra manifestação dela foi o anúncio, em outubro, do suposto complô iraniano para assassinar o embaixador saudita em Washington, com o apoio de narcotraficantes mexicanos. A trama, ainda sem comprovação, proporcionou um pretexto para a escalada de pressões contra o Irã. O governo do México, subjugado pelas manobras das agências de inteligência estadunidenses, em função dos acordos de cooperação contra o narcotráfico, acatou a versão, sem tampouco dar explicações convincentes.

Curiosamente, uma semana antes do comunicado oficial sobre a suposta trama, o sítio do AEI publicou uma investigação assinado por Noriega e José R. Cárdenas, intitulado “A crescente ameaça do Hisbolá na América Latina”. As “novidades” mais relevantes apresentadas foram a descoberta de vínculos do terrorismo islâmico com os cartéis de drogas, o interesse iraniano pelos minérios nucleares sul-americanos e a proximidade da Copa do Mundo.

Na entrevista à Veja, Noriega explicitou os vínculos dos “neoconservadores” com a inteligência antidrogas: “Em paralelo com o nosso trabalho, que tornou pública a presença do Irã e do Hisbolá no México, a DEA já vinha investigando as ligações entre extremistas islâmicos. E eu acho que isso foi uma sorte, porque os integrantes da DEA estão acostumados a pensar além do que diz o manual.”

Fonte

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