Telegramas confidenciais do Itamaraty revelam que os EUA promoveram embargo e "abortaram" a venda, por outros países, de tecnologia considerada essencial para o programa espacial brasileiro na década de 1990.
Em um dos telegramas, o Itamaraty associou a ação norte-americana a um atraso de quatro anos na produção e lançamento de satélites.
O projeto Folha Transparência divulga em seu site a partir de hoje 101 telegramas confidenciais inéditos da diplomacia brasileira, que tratam dos programas brasileiros espacial e nuclear.
A pressão norte-americana sobre o projeto espacial já foi ressaltada por especialistas brasileiros ao longo dos anos, e um telegrama do Wikileaks divulgado em 2010 indica que ela ainda ocorria em 2009. Os documentos agora liberados permitem compreender a origem e o alcance do embargo, assim como a enérgica reação do Brasil.
Em despacho telegráfico de agosto de 1990, o Itamaraty afirmou que a ação norte-americana começara três anos antes, por meio de "embargos de venda de materiais", impostas pelos países signatários do RCTM (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis) --um esforço voluntário entre países, de 1987, para coibir o uso de artefatos nucleares em mísseis.
O Itamaraty incluiu o bloqueio dos EUA como um dos motivos para o atraso na entrega do VLS (Veículo Lançador de Satélites), que deveria estar pronto em 1989. O primeiro teste de voo foi em 1997.
Lucas Lacaz Ruiz - 22.ago.08/Folhapess |
Réplica do VLS (Veículo Lançador de Satélites) exposto no MAB (Memorial Aeroespacial Brasileiro)
Além do VLS, o programa espacial previa a construção de quatro satélites, dois para coleta de dados e dois para sensoriamento remoto.
O Brasil só aderiu ao acordo em 1995. Os telegramas revelam que, um ano depois, o diretor do CTA (Centro Técnico Aeroespacial) da Aeronáutica, Reginaldo dos Santos, atual reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), informou ao Itamaraty que os EUA negaram o pedido para importar transmissores para uso em foguetes brasileiros.
O Itamaraty orientou seu embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, a manifestar "estranheza e preocupação" ao governo dos EUA. A medida dos EUA só foi revista meses depois.
José Israel Vargas, ministro da Ciência e Tecnologia entre 1992 e 1998, confirmou à Folha as gestões dos EUA para prejudicar o programa espacial brasileiro.
"Houve sim pressão americana para qualquer desenvolvimento de foguetes, contra nós e todo mundo [que o fizesse]." Segundo ele, países avançados na área, que ajudavam outros a criar seus programas espaciais, como a França fez com o Brasil, também eram pressionados.
A Embaixada dos EUA em Brasília, quando procurada em agosto pela Folha, não comentou os telegramas do Itamaraty, mas elogiou a divulgação dos documentos.
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/
Nota:
Até hoje aquele incidente na base de Alcântara esta mal contada.
21 vidas foram ceifadas.
Acidente na base de Alcântara destrói VLS-1
Mais em:
http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010130030825Estamos de olho.
Um abraço
Célio
1 Comentários
Acredito que seja digno de nota o seguinte e simples raciocínio: é certo que, em um futuro não muito distante, os recursos minerais da Terra vão se esgotar. A procura por estes recursos (ferro, ouro, bauxita e etc.) será maior que a demanda, e então haverá elevação dos preços dessas e de outras commodities, inflacionados pela escassez dos tais recursos. Isto trará severas dificuldades a muitos países com a redução do ritmo de crescimento que está atrelado ao processo exploratório dos minerais e consequente atraso em muitas áreas vitais como a tecnológica, cuja dependência aos diversos materiais e tipos de ligas raras é cada vez maior. Mas, como prevenir é melhor que remediar, no espaço há abundância de minérios incluindo aqueles considerados raros aqui em nosso planeta. Sendo assim, as nações deste mundo que negligenciarem os investimentos em tecnologia espacial, estarão fadadas à serem dependentes dos detentores da tecnologia espacial como um todo. Portanto, com este breve vislumbre de um futuro próximo podemos antever o que virá, porque a História nos mostra a diferença entre os dominados e os que dominam.
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